Todos os dias, fizesse chuva ou sol, Francisco Nunes Elyseu partia de sua casa em Alcobaça em direcção a São Martinho do Porto. A bicicleta era o seu único companheiro de viagem.
Partia com um único propósito: dar aulas no Colégio José Bento da Silva, nome do comendador que legou à vila o estabelecimento de ensino. No terreno, Francisco Nunes Elyseu mantinha a luta de dar continuidade ao Ensino Secundário Liceal, quando na região, durante vários séculos, apenas as sedes de distrito o possuíam.
Francisco Nunes Elyseu nasceu na freguesia de Alcobaça em 1874 e faleceu, em Lisboa, em 1965, depois de uma vida dedicada aos outros e à terra que adoptou como sua, São Martinho do Porto.
O professor foi sempre um homem determinado. Com apenas 19, enquanto estudante, decidiu, voluntariamente, assentar praça no Regimento de Cavalaria nº 9, em Alcobaça. Mais tarde, passou pelo Regimento de Cavalaria nº2 - Lanceiros de D’El Rei.
Durante o serviço militar, Francisco Nunes Elyseu frequentou a Escola Politécnica e o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa.
Com pouco mais de 20 anos, o “mestre de sucessivas gerações”, como muitos o chamam sentiu a necessidade de ensinar e partilhar os seus conhecimentos. Fê-lo sempre de coração aberto e de livre e espontânea vontade.
O professor Elyseu possibilitou a muitos jovens a continuidade da actividade escolar para além da quarta classe.
Para além da batalha diária de manter o Ensino Secundário Liceal em São Martinho, Francisco Nunes Elyseu, durante a sua docência, leccionou sozinho no Colégio José Bento da Silva. A seu cargo teve várias dezenas de alunos e disciplinas, do 1º ao 7º ano do liceu, mas ainda assim nunca baixou os braços ou sentiu-se desamparado.
Inicialmente, o seu objectivo era ministrar Cursos de Pilotagem, mas a realidade era outra. A terra apresentava fortes carências de instrução.
Anos depois, optou por fixar residência em São Martinho do Porto. A 29 de Outubro de 1898, o docente, com apenas 24 anos e já casado, recebeu do Ministério do Reino - Direcção Geral de Instrução Pública, o diploma que lhe permitia exercer as funções de professor particular do ensino secundário. Estava, assim, criado o Ensino Secundário na vila. A partir desta data, o professor Elyseu trabalhou arduamente para preservar este grau de ensino na região. 35 anos depois, a Inspecção Geral do Ensino Particular atribuiu-lhe o diploma de director, pelos serviços e dedicação prestada àquele estabelecimento de ensino.
Sozinho, leccionou todas as disciplinas do currículo liceal e, para além disso, acompanhou os alunos nos exames efectuados no Liceu Rodrigues Lobo, em Leiria. Os resultados foram sempre exemplares e, por isso, elogiado pelos professores-examinadores daquele estabelecimento de ensino.
O mérito de Francisco Nunes Elyseu não se fica por aqui. Aos 69 anos, ainda dava aulas. Foi com esta idade que viu o trabalho de uma vida agraciado com o Grau de Oficial da ordem de Instrução Pública.
Pela sua dedicação ao ensino, ainda em vida, a rua que serve de entrada ao Colégio José Bento da Silva recebeu o seu nome, por proposta do então presidente da Junta de Turismo da vila de São Martinho.
Durante meio século, o “mestre de sucessivas gerações” possibilitou a muitos jovens a actividade educativa. Em troca, apenas exigia que os alunos fossem educados, estudassem e tivessem uma boa vida. Foi graças a Francisco Nunes Elyseu que muitos filhos da terra prosseguiram os estudos.
Sem comentários:
Enviar um comentário